terça-feira, abril 22, 2014

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Flavinha Couto

quinta-feira, março 13, 2014

POR EXPERIÊNCIA PESSOAL

O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros. 1 João 1:3

No início de 1999, quando eu era pastor da Igreja Adventista Portuguesa de Toronto, tive a triste oportunidade de assistir ao funeral de Pedro A. Mitchell, 29 anos, filho do pastor C. Mitchell, que liderava uma igreja adventista no centro de Toronto, não muito longe de minha igreja. O sermão fúnebre foi pronunciado pelo pastor V. Kerr, então oficial do Departamento da Escola Sabatina na Associação de Ontário. Era impossível não perceber a emoção de Kerr. Também era notório o tom de autoridade de sua mensagem. Qual era o segredo? O pastor Kerr, poucos meses antes, havia perdido o próprio filho, Ben, assassinado por policiais norte-americanos. Por puro preconceito de cor, numa perseguição absurda de automóvel, a polícia matou o rapaz, que ia para o Oakwood Adventist College a fim de estudar teologia.

A aplicação é muito simples: a autoridade do que comunicamos como cristãos será sempre proporcional ao conhecimento pessoal e à experiência de primeira mão daquilo que queremos comunicar. É precisamente por isso que Jesus Cristo nos chamou para sermos Suas testemunhas, como enfatizado em Atos 1:8: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da Terra." A testemunha fala daquilo que presenciou, viu ou ouviu. Em outras palavras, Cristo não precisa primariamente de defesa ou de serviços de advocacia, mas do testemunho daqueles que O conhecem de maneira íntima, pessoal e experiencial. Do contrário estaremos apenas falando de uma teoria abstrata, pálida, sem poder, autoridade ou credencial.

É como na conhecida história dos dois sujeitos que recitaram o salmo 23, com diferentes resultados. Um impressiona pela arte da interpretação, o outro leva às lágrimas e à reflexão pela emoção da voz. Qual a diferença? Um conhecia o salmo do Pastor, o outro conhecia o Pastor do salmo!


quarta-feira, março 12, 2014

TOMÉ, O PESSIMISTA – II

Mas ele respondeu: Se eu não vir nas Suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no Seu lado, de modo algum acreditarei. João 20:25

Em seu amor e devoção por Cristo, Tomé, como tantos discípulos ao longo da história, é quase anônimo, preso pelas circunstâncias que envolvem sua personalidade tímida. Sua dedicação, por isso, é pouco vista, exceto em situações críticas, quando seu "eu real" é revelado. No capítulo 14 do Evangelho de João, nos deparamos novamente com seu pessimismo crônico. Jesus está de partida para a casa do Pai, mas anuncia que voltará. O caminho para Ele, contudo, é conhecido pelos Seus (v. 4). A reação de Tomé é quase infantil: "Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?" (v. 5). Essencialmente, Tomé está dizendo: "Nós nunca chegaremos lá. Melhor seria que tivéssemos morrido antes; assim, não O veríamos partir. Agora, como vamos encontrá-Lo?" Tomé estava preparado para morrer com Cristo, mas não para viver sem Ele.

Um pouco depois, seus piores receios se realizaram. Jesus fora crucificado! Ressuscitado, Ele aparece aos apóstolos, devastados pela tragédia. Jesus vem a eles através de portas fechadas, como Ele vem a nós muitas vezes. Mas Tomé "não estava com eles" (Jo 20:24). Onde estaria? Tão pessimista, deprimido e melancólico, provavelmente estivesse arrasado, amargando sozinho sua miséria. Quando finalmente ele aparece, os outros tentam consolá-lo: "Vimos o Senhor." É por causa de sua reação que Tomé recebeu a alcunha de "incrédulo". Mas não sejamos tão severos com ele. Os outros também, de início, duvidaram da ressurreição (Mc 16:10-14). Oito dias depois, Jesus reaparece ao grupo. Nesse momento, dirige-Se a Tomé em suave repreensão: "Vê as Minhas mãos" (Jo 20:27).

Jesus sabia que Tomé era assim por natureza. Ele não ignora que Seu discípulo ainda estava paralisado pela dor, solidão, depressão e tristeza. Entretanto, Ele conhecia a sinceridade de sua devoção. Jesus também sabe de nossas fraquezas, incertezas e dúvidas. Ele é paciente com os pessimistas. Tomé se lança a Seus pés e pronuncia um belíssimo tributo: "Senhor meu e Deus meu!" (v. 28). Segundo a tradição, Tomé foi missionário na Índia, onde morreu transpassado por uma espada. Livrou-se afinal de seu pessimismo? Talvez. Mas isso não importa. Jesus não deixou de amá-lo e o aceitou como ele era. Isso é graça!


terça-feira, março 11, 2014

TOMÉ, O PESSIMISTA – I

Então Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos. Vamos também nós para morrermos com Ele. João 11:16

Ao contrário de Pedro, que sempre ocupa o primeiro lugar nas listas dos apóstolos, Tomé aparece no grupo liderado por Filipe. Em duas listas, ele é o último relacionado (Mc 3:16-19; Lc 6:14-16). Ou então é referido em lugares secundários (Mt 10:2-4; At 1:13).
Aparentemente, ele manifestava uma personalidade negativa, tendendo à melancolia, talvez mais vítima do pessimismo do que da dúvida. No Evangelho de João, Tomé também é chamado Dídimo (Jo 11:16), palavra aramaica para "gêmeo". Provavelmente ele tivesse um irmão (ou irmã) gêmeo, mas isso não é indicado nas Escrituras.

Mateus, Marcos e Lucas não apresentam detalhes sobre ele. O pouco que sabemos de Tomé vem do Evangelho de João. Parece que ele costumava estar sempre na esquina escura da vida. Alguém que tendia a antecipar o pior. Apesar disso, com aquilo que é dito sobre ele em João surge um perfil admirável. O texto de hoje o descreve no clima da enfermidade e morte de Lázaro. Maria e Marta enviam um mensageiro para comunicar a tragédia a Jesus. Observe o contraponto: antes de Jesus deixar Jerusalém, indo para a região além do Jordão, os judeus haviam tentado apedrejá-Lo (Jo 10:31). Quando os discípulos percebem que Jesus planeja voltar, relembram o perigo: "Ainda agora os judeus procuravam apedrejar-Te, e voltas para lá?" (Jo 11:8).

Mas Seus amigos em Betânia, a 3 quilômetros de Jerusalém, estavam numa emergência. Nada impediria que Ele fosse em socorro deles. É aqui que se abre perante nós um impressionante traço do caráter de Tomé. Seu espírito de liderança e sua coragem tornam-se evidentes. Tomé eleva-se acima do medo do grupo e diz com firmeza: "Vamos também nós para morrer com Ele." Pessimismo?
Certamente. Um otimista teria dito: "Vamos lá, vai dar tudo certo!" Tomé não vê outra coisa senão desastre à frente. Mas, se o Senhor vai morrer, ele diz: "Vamos juntos para morrer com Ele." Temos que admirar sua determinação. Tomé tinha a coragem para ser leal face ao perigo. Para otimistas, a coragem é sempre mais fácil.

O quadro me emociona. Tomé, em sua devoção a Cristo, não tem plano "B". Ele não podia imaginar a vida sem Cristo. Seu compromisso é incondicional. "Se Ele vai morrer, é melhor morrer com Ele do que ficar para trás", pensava Tomé. Este é um exemplo de coragem e zelo que desafia indecisos discípulos modernos.


SOB TUA PALAVRA

Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-Lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a Tua palavra lançarei as redes. Lucas 5:4, 5

Jesus pregou de muitos púlpitos. No lago de Genesaré, também conhecido como Mar da Galileia, Seu púlpito foi um barco. Os pescadores haviam retornado da noite extenuante de mãos vazias e lavavam as redes. "Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-Se, ensinava do barco as multidões" (v. 3). Agostinho observa que essa é a primeira ocasião em que o "pescador" está na água, e os "peixes" em terra.

O foco da narrativa do chamado dos discípulos em Lucas é diferente da descrição de Mateus (4:18-11) e Marcos (1:16-20). É provável que pelo menos sete dos discípulos fossem pescadores (Jo 21:1-3). Jesus já os conhecia e era conhecido deles. Haviam viajado juntos de Cafarnaum para a Galileia (Mc 1:21-39). Tinham estado juntos no milagre de Caná (Jo 2:1). Provavelmente eles seguissem Jesus em "tempo parcial" entre uma pescaria e outra. Agora eles estão diante do chamado para o serviço de "tempo integral".

Em breve, serão desafiados a se tornar "pescadores de homens" (v. 10). Há, porém, uma lição fundamental que devem aprender de início. Jesus ordena a Pedro que navegue para águas profundas e lance a rede. A reação de Pedro é a palavra do especialista, do pescador experimentado, diante da ordem de um carpinteiro: pesca de rede não se realiza de dia e em alto-mar, quando os peixes estão escondidos da luz, nas águas claras da Galileia. Pedro deve ter visto o contrassenso do pedido. Absurdo? Ridículo? Ele simplesmente agiu: "Sob a Tua palavra lançarei a rede."

Provavelmente você já tenha ouvido ordens divinas em diferentes áreas da vida: nos negócios, no casamento, nos estudos, nos relacionamentos ou nas diversões. Talvez tenha ficado oscilando entre as "evidências" e a obediência. O que Deus pede, às vezes, pode parecer contrário à experiência, à prática e à inclinação. Contudo, Ele está acima de nossas fracas percepções, conhecimento e senso comum. Apenas quando Lhe obedecemos, mesmo contrariando a "lógica", podemos experimentar o sucesso. Veja a conclusão do relato (v. 6, 7): "apanharam grande quantidade de peixes", "rompiam-se-lhes as redes", encheram dois barcos "a ponto de quase irem a pique".


domingo, março 09, 2014

NA CONTRAMÃO...

Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem. João 7:46

O livro Jesus para Presidente, de Roland Merullo, escrito de uma perspectiva não religiosa, apresenta a extraordinária ficção de Jesus Cristo como candidato à presidência dos Estados Unidos. O surpreendente nessa "candidatura" são os métodos políticos de Cristo, se é que os podemos chamar de "políticos". Sua simplicidade, sinceridade e desconcertante transparência são radicalmente diferentes de tudo aquilo que conhecemos dos políticos profissionais e de sua forma de comportamento. De uma maneira divertida, irreverente e às vezes emocionante, o livro inicia com os tipos que Jesus escolhe para Seu comitê: um jornalista cético, a família disfuncional, a namorada secular, o chefe materialista. São as pessoas menos prováveis, mas que afinal se tornam inteiramente comprometidas com Jesus.

De certa forma, o livro reflete o Cristo que encontramos nas narrativas dos evangelhos. Reflete Sua desconsideração sistemática por aquelas coisas que usualmente consideramos tão importantes e Sua rejeição dos símbolos exteriores do poder: dinheiro, posição, aparência, sofisticação e grifes, entre outras coisas. Jesus nunca "dourou a pílula" para persuadir alguém a aceitá-Lo e segui-Lo. Ao contrário, até parece que Ele colocava empecilhos ao discipulado. "Quem quiser ser Meu discípulo tome sua cruz e siga-Me", 
Ele disse. "Aquele que não abandonar pai, mãe e irmãos não pode ser Meu discípulo", também afirmou.

Seus ensinos e Sua ética são verdadeiros paradoxos para nós. Que rei se sacrificaria por seu povo? Reis e governantes costumam ser dominados pela sedução do poder. Por isso, muitas vezes sacrificam seus súditos. Que tipo de rei lavaria os pés de seus servos como fez Jesus? Que governante livremente se associaria com os mais humildes membros da sociedade? Há pessoas em posição de poder secular e também religioso que mantêm a "mística da liderança", traduzida por distância e afastamento.

Qualquer um que conversasse com Jesus sairia grandemente intrigado. A pessoa ficaria consideravelmente perturbada por Sua lógica desafiadora e em razão de Sua perspectiva das coisas. Não é por acaso que Jesus exerce sobre milhões de pessoas como você e eu um extraordinário fascínio. Isso porque, no fundo, somos impressionados pela sinceridade, pureza, honestidade, transparência, integridade e coerência acima de qualquer interesse e vantagens pessoais.


sábado, março 08, 2014

DEUS E OS DEUSES

Em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino. Daniel 1:20

O livro de Daniel apresenta um claro conflito entre Deus e os deuses, entre a verdadeira e a falsa adoração. Nos versos iniciais do livro, Jerusalém e Babilônia aparecem em confronto. Esse é um tipo de polarização que ocorrerá no tempo do fim. O livro indica que a vitória pontual de Babilônia acontece apenas por permissão divina: "O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá" (v. 2). Nabucodonosor é apenas um instrumento do juízo divino contra Israel. Mero contraponto de uma história muito mais ampla.

Em meio às complexas linhas dos eventos, mesmo diante da vitória de Babilônia e do fato de os utensílios sagrados do templo divino terminarem dessacralizados num templo pagão, Deus continua no controle. Daniel e seus amigos são representantes do triunfo divino. Levados a Babilônia, eles não se deixam seduzir pelo inimigo. Os esforços para "aculturá-los" são inúteis. Eles "resolveram firmemente" resistir aos assédios babilônicos. Em um teste posterior, em "inteligência e sabedoria", são dez vezes mais bem-sucedidos que todos os magos e encantadores do reino. Surpreendentemente, no capítulo 2, diante de seu sonho enigmático, Nabucodonosor, que já constatara a superioridade dos hebreus, convoca primeiro os "magos, encantadores e feiticeiros" de seu reino (Dn 2:2). Por quê? A rebelião humana se opõe a Deus mesmo diante das maiores evidências.

Outro aspecto curioso é que Babilônia e o sonho de seu rei tinham um antecedente histórico. Faraó, no antigo Egito, também tivera um sonho (Gn 41:1). Ele também havia confiado em seus "magos e sábios" (v. 8) para que o mistério fosse desvendado. Nos dois casos, contudo, os recursos humanos em oposição a Deus foram envergonhados, demonstrando sua impotência patética. Nos dois casos, os deuses falsos não podiam explicar nada. Os representantes da sabedoria do homem tiveram sua oportunidade, mas tudo que puderam demonstrar foi tolice e incapacidade. O Altíssimo não apenas vê o futuro, mas controla a história. Tanto José (Gn 41:16) quanto Daniel (Dn 2:28) apontam para Deus como o único que pode revelar o desconhecido. Afinal, constatamos o triunfo de Deus a despeito das aparências adversas. A vitória pertence ao Senhor.


sexta-feira, março 07, 2014

O DIA DAS MULHERES

Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Gênesis 1:27

No registro do Gênesis, a mulher é o clímax da obra criadora de Deus. Com ela, Deus encerra Sua atividade. Depois da criação dela, tudo é "muito bom". Levando-se em conta que na mente hebraica o "melhor é o fim" (Ec 7:8), a criação só está completa quando a graça feminina aparece em cena. Você já imaginou um mundo sem as mulheres? Como seria a realidade sem a doçura, a meiguice e o jeito incomparável delas? Bem, a dificuldade começaria com o fato de que, sem elas, nenhum de nós existiria. Um mundo sem mães, esposas, irmãs, noivas, namoradas e amigas é inviável.

Os homens gostam de divulgar que eles possuem 23 milhões de neurônios, enquanto as mulheres possuem "somente" 19 milhões. Que diferença isso faz? Exatamente nenhuma. As mulheres, como Stephen Kanitz observa, compensam essa diferença de neurônios processando informação de modo diferente dos homens. Os homens pensam de forma sequencial, etapa por etapa, comparando o fato com regras preestabelecidas, com conclusões "sim-não", "certo-errado". As mulheres raciocinam em paralelo, avaliam dezenas de variáveis. Tudo feito ao mesmo tempo. Por isso, dizemos que elas são "intuitivas". A questão é que elas simplesmente processam informação mais rapidamente. São mais abrangentes. Sabe-se hoje que as mulheres possuem 13% mais conexões entre os neurônios do que os homens. Nisso a diferença de neurônios é compensada. Por esse motivo, as mulheres conseguem cuidar de diversas coisas ao mesmo tempo.

As mulheres costumam ser menos dogmáticas e mais conciliatórias. Em brigas de casais, os homens normalmente discutem causa e efeito.

As mulheres geralmente discutem sentimentos e emoções. Já ouviram que as mulheres "não sabem administrar"? Ainda segundo Kanitz, as 400 maiores entidades nacionais beneficentes são mais bem administradas do que a maioria das empresas brasileiras. Razões? Clareza de propósito, ética, motivação de funcionários, etc. Mas a razão principal é que a maioria dessas entidades beneficentes é administrada por mulheres. Aí elas conseguem demonstrar seu estilo feminino de administrar, com sensibilidade, percepção e empatia. Hoje, agradeça a Deus o clímax de Sua obra criadora.


A MÃO NA PAREDE

No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real. Daniel 5:5

Daniel 5 é o último capítulo histórico do livro que enfoca Babilônia. Ele descreve as horas finais do império. A invasão medo-persa já estava em processo. Essa narrativa das Escrituras veste-se de um pesado manto de solenidade. Belsazar ocupa o trono em lugar de seu pai, Nabonido, como corregente. Embriagado, ele manda trazer os utensílios sagrados de ouro e prata que Nabucodonosor, seu avô, havia tirado do templo do Altíssimo em Jerusalém.

O único registro de Belsazar nas Escrituras aparece nesse quadro insolente e blasfemo. Insolência e blasfêmia estão a um passo do orgulho e da arrogância. No capítulo 4, Nabucodonosor fora visitado pelo julgamento divino. Belzasar conhecia a história de seu avô, de sua humilhação e final conversão, mas isso não exerceu qualquer efeito sobre ele. Na presença de seus convidados, ele encenou sua insanidade final. Bêbados "deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro de madeira e de pedra" (v. 4). Essas seis classes de deuses falsos mencionados relembram a abominação da idolatria de Babilônia, tema que reaparece no Apocalipse.

Naquele momento, uma misteriosa mão começou a escrever "defronte do candeeiro". A cena é aterradora. Os dedos dançavam enigmáticos sob a luz trêmula na parede. "Então se mudou o semblante do rei, os seus pensamentos o turbaram, as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro" (v. 6). A arrogância desaparecera. Em seu lugar surgiram todos os sintomas do terror e do medo. A mesma mão que escrevera na pedra proibindo a idolatria, agora escrevia na "parede caiada" o julgamento dos idólatras. Essa era a última noite na história de Belsazar: "Pesado [...] e achado em falta" (v. 26). Ciro já havia desviado o curso do Eufrates. Naquele momento, ele invadia a cidade pelo leito seco do rio.

Há sempre uma última noite para tudo e todos. A última festa, a última dança, o último filme, o último cigarro, o último drinque, a última refeição, o último prazer. A natureza humana, contudo, sob a narcótica ação do pecado, facilmente se esquece disso, como Belsazar se esqueceu do que testemunhara na vida do avô. Ore hoje por discernimento espiritual e permaneça em estado de alerta.


quarta-feira, março 05, 2014

OS SANTOS QUE ESTÃO EM...

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus. Efésios 1:1

Paulo inicia algumas de suas epístolas com este tratamento. Mesmo escrevendo à problemática igreja de Corinto, marcada por enormes dificuldades, divisões e heresias, o apóstolo chama seus membros de "santos" (1Co 1:2; 2Co 1:1). Mas, afinal, santos não são pessoas que já morreram e que em vida alcançaram tamanha preeminência espiritual que mereceram esse título?

Segundo a Igreja de Roma, Frei Galvão (1739-1822) é o único santo nascido no Brasil. Ele foi canonizado em 2007. De acordo com essa compreensão, para que alguém seja declarado santo, são necessários pelos menos dois milagres confirmados. Também há um longo e rigoroso escrutínio de conduta para que se determine se o candidato se qualifica para o título.

Talvez nenhuma palavra bíblica tenha sofrido mais deformação do que o termo "santo". Mesmo no dicionário, o vocábulo é definido como aplicável a uma pessoa oficialmente reconhecida por excelência moral. O irônico é que as Escrituras nada sabem a respeito dessa crendice religiosa. Apenas na pequena Epístola aos Efésios, em nove ocasiões Paulo dirige-se a seus leitores chamando-os de "santos". Observe: eles são santos vivos, não mortos, apesar de outrora terem estado mortos em "delitos e pecados" (Ef 2:1-3). Também é evidente que eles jamais realizaram qualquer milagre, embora tenham experimentado o grande milagre da fé em Cristo como Salvador (Ef 2:4-10).

Nas Escrituras, as palavras hebraicas kadosh e kadesh ou as gregas hagios e hagiazo ocorrem centenas de vezes, sendo traduzidas como santo, santidade,

santificação, santificar. O significado básico desses termos é: "colocar de lado", "separar", "colocar à parte" para o uso de Deus e de Seu serviço. Um objeto, instituição e pessoa tornam-se santos pelo fato de pertencerem a Deus e a Seus propósitos.

Você que recebeu Jesus como seu Salvador foi separado para Seu serviço. Nesse sentido, você é santo. Vivendo em São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Recife, Brasília ou em qualquer outra cidade, grande ou pequena, você é considerado santo. Como você pretende viver hoje diante dessa revolucionária verdade bíblica? Lembre-se também do seguinte: nós não avançamos para a santidade, como se ela estivesse no futuro, mas avançamos em santidade hoje!


terça-feira, março 04, 2014

REPENSANDO A PARÁBOLA

Porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Lucas 16:28

A força da mensagem contida na parábola do rico e Lázaro tocou a vida de Albert Schweitzer. Ele viu a África como um mendigo, jazendo nos portões da Europa. Como médico cristão, dedicou-se em serviço de compaixão no continente africano. O propósito dessa parábola, como vimos, não é oferecer uma doutrina sobre o estado dos mortos, mas chamar nossa atenção para a oportunidade de utilizar nossos recursos para servir enquanto temos vida.

A dramática narrativa foi provavelmente precipitada pela atitude dos fariseus, que "amavam o dinheiro" (Lc 16:14, NTLH). Quando esses "piedosos" atores ouviram que, segundo Jesus, é impossível "servir a Deus e às riquezas" (v. 13), eles O ridicularizaram (v. 14). Jesus conta então essa história (v. 19-31). O drama em três atos nos estarrece. Primeiro, Jesus descreve o contraste dos estilos de vida dos personagens. Lázaro, o mendigo, permanece "invisível" em sua miséria. O rico vive de modo indulgente, em suas roupas e banquetes.
Hoje, mais que nunca, o uso egoísta das posses levanta barreiras. Socialites aparecem em festas extravagantes, com vestes de grifes de preços assombrosos, ou gastos patológicos com luxos para animais de estimação. No segundo ato do drama, os personagens surgem por ocasião da morte. Lázaro está próximo de Abraão, o pai de Israel. Dives teve funeral suntuoso, talvez até tenha sido declarado feriado. Mas foi para o hades – segundo a crença popular, o local de castigo. Não que ele fosse irreligioso, pois até clama ao "pai Abraão" (v. 24). Talvez tivesse sido um bom praticante da religião. Contudo, viveu sem amor, cavando fundas valas ao redor de si. A terceira cena é o diálogo entre o rico e Abraão. Os pedidos são negados, e Abraão afirma uma verdade universal: aqueles que são surdos à voz de Deus em Sua revelação não serão convencidos por milagres e sinais.

Qual o pecado de Dives? Nunca ter notado Lázaro. Qual é o nosso? Cada ano, entre 15 a 20 milhões de pessoas morrem de fome e enfermidades relacionadas a ela. Cerca de 12 milhões são crianças com menos de 5 anos.

A cada ano, 250 mil crianças se tornam cegas por falta de vitaminas. Você passa por muitas delas a caminho do trabalho, escola, igreja ou em sua porta. Você as vê? Nosso pecado é que simplesmente não fazemos nada.


OS VIZINHOS QUE NUNCA SE ENCONTRARAM – II

Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. Lucas 16:22

Jesus não economiza palavras para descrever o quadro. Lázaro, sobrevivendo de magra caridade, "jazia cheio de chagas", indicando que ele era desabilitado, dependendo de outros para movê-lo. "Cães lambiam as suas úlceras" (v. 21), ele era incapaz mesmo de se proteger. Faminto, desejava alimentar-se das migalhas de pão que caíam da mesa do rico. No Oriente, pedaços de pão serviam tanto de garfo como de guardanapo, e eram jogados ao chão depois do uso.

A morte de Lázaro não surpreende ninguém. Seu enterro nem mesmo é descrito. Na sabedoria convencional dos judeus, a miséria na terra era resultado da desaprovação divina. O destino de Lázaro, entretanto, é o "seio de Abraão". Reversão maior não poderia ser imaginada. Dives, o rico, também morre. Funeral custoso é realizado com o luxo adequado à sua riqueza, mas não há nenhum anjo para transportá-lo. Na próxima cena, encontramos Dives no Hades – na tradição grego/judaica, o lugar de tormento. O abismo entre os dois é maior do que aquele criado pela riqueza contrastante com a miséria da cena anterior.

Para os que querem literalizar a parábola, uma questão é interessante: deveriam explicar se o Céu e inferno estão próximos o suficiente para que haja diálogo entre um lado e outro. Na realidade, esses detalhes sugerem apenas um aspecto prático da vida, não uma teologia ou doutrina sobre o estado dos mortos.

Como se Lázaro fosse seu escravo, Dives pede ao "pai Abraão" que o mande trazer-lhe água e depois solicita que o envie a advertir seus cinco irmãos, que caminham para a mesma direção (v. 24-28). Há milhões que são imitadores do homem rico: "Eu creria se Deus fosse mais claro." Assim, Deus é considerado culpado pela incredulidade deles. A resposta de Abraão é demolidora: "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos" (v. 29). Se não crerem nesses, não crerão "ainda que ressuscite alguém dos mortos" (v. 31). A lógica de Abraão é confirmada pela ressurreição de outro Lázaro (Jo 11). Em lugar de crerem, o milagre tornou-se razão para endurecimento adicional. Deus fala por meio de Sua criação, da história, da Palavra escrita e da Palavra encarnada, Jesus Cristo. Não necessitamos de nada mais. O que realmente precisamos é de um coração sensível. Nosso problema não é revelação insuficiente, mas fé insuficiente. Afinal, não é a riqueza que exclui Dives do Céu, mas sua incredulidade.


domingo, março 02, 2014

OS VIZINHOS QUE NUNCA SE ENCONTRARAM – I

Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele. Lucas 16:19, 20

Dives, que em latim significa "homem rico", e Lázaro eram vizinhos. Diariamente passavam um pelo outro no portão da casa do rico. Mas, ao que parece, os dois realmente nunca se encontraram. A razão é reveladora: Dives vivia tão absorvido com seu indulgente estilo de vida que nunca notou a presença do pobre homem. Lázaro, como os pobres em geral, era "invisível".

Muitos têm tentado usar essa parábola em apoio à teoria de um inferno em que as pessoas queimam eternamente, desenvolvendo assim uma precária geografia do Céu e do inferno. Porém, segundo Romanos 6:23, "o salário do pecado é a morte". Não é uma "vida no inferno". Esse texto diz ainda que "o dom gratuito de Deus é a vida eterna". Vida eterna e morte eterna são colocadas em contraste; do contrário, nós teríamos dois tipos de vida eterna: uma no Céu e outra no inferno.

Jesus está usando linguagem figurativa. Termos como "sede", "ponta do dedo", "água", "língua" e "seio de Abraão" não podem ser entendidos literalmente. Jesus utiliza noções comuns que haviam adentrado o judaísmo pós-exílico, sob a influência da filosofia grega, para ensinar uma lição básica: todos nós temos apenas uma oportunidade para servir, e essa é enquanto estamos vivos. Por esse caminho passamos apenas uma vez. Não há nenhuma possibilidade de retorno. Todo bem deve ser feito enquanto a porta da vida está aberta.

Essa é a única parábola em que um nome é atribuído ao personagem. Ironicamente, Lázaro significa "Deus é minha ajuda". Cínicos poderiam zombar não do nome, mas do próprio Deus, que aparentemente não serve de ajuda aos milhões de famintos do mundo. O problema, contudo, não está com Deus, mas com Seus "mordomos". Deus criou um mundo com alimento suficiente para todos, mas o mundo não tem o suficiente para a ganância de todos. Enquanto muitos não têm o que comer, quase 50% da população em países ricos é obesa. Os livros mais vendidos nesses países têm que ver com dieta. Como emagrecer. Não parece realmente irônico que acusemos a Deus dos desequilíbrios criados pelo próprio homem? Os Dives do mundo continuam sem se encontrar com os vizinhos pobres e indiferentes à sorte e à miséria deles.


sexta-feira, fevereiro 28, 2014

MONUMENTOS SOBRE A AREIA

Todo aquele, pois, que ouve estas Minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Mateus 7:24

Não muito longe de Lincoln, no estado do Kansas, um estranho grupo de estátuas se ergue em um velho cemitério. Um fazendeiro local chamado John Davis erigiu-as. Quando a esposa faleceu, ele encomendou os serviços de um profissional para esculpir uma estátua dele e da esposa assentados em um banco. Não satisfeito, ele encomendou uma segunda estátua. Esta era dele mesmo ajoelhado junto à sepultura de sua esposa. Insatisfeito ainda, ele encomendou uma terceira. Desta vez, de sua esposa ajoelhada junto à sua futura sepultura. John Davis gastou quase 250 mil dólares em suas estátuas. Quando era solicitado a ajudar alguma causa comum na pequena cidade, um hospital, uma escola ou um parque para crianças, ele se tornava hostil, alegando que a cidade nunca fizera nada por ele.

John Davis morreu aos 92 anos, pobre, dependendo da caridade pública. Em seu funeral, poucas pessoas compareceram. Apenas um indivíduo parecia realmente triste – Horace England, o escultor. Hoje, as estátuas erigidas por Davis estão curiosamente afundando no solo petrolífero do Kansas, vítimas do tempo, do vandalismo e do desinteresse. Tais estátuas são a triste lembrança de uma vida gasta em preocupações egoístas e fúteis.

E você, o que está construindo? Onde está colocando o fundamento de suas construções? Jesus encerra o Sermão da Montanha contando a parábola das duas casas, uma sobre a rocha e outra sobre a areia (Mt 7:24-27). A parábola ilustra a obediência ou a desobediência à Sua Palavra. Nossa opção não é entre construir ou não construir. Todos estamos "construindo". Não há como fugir disso. O verdadeiro alicerce na parábola é a obediência. Obediência é a prova final de nossa fé. Como é fácil aprender um vocabulário religioso, textos bíblicos e hinos ficando limitados à aparência da construção sobre a areia.

Os dois homens da história tinham elementos em comum. Eles queriam construir uma casa, e ambos a fizeram de forma a parecer bela e forte. Porém, quando veio o julgamento – a tempestade – uma delas caiu. Qual a diferença? O alicerce. Precisamente aquilo que não podemos ver. Nos dias de sol, as duas casas podem parecer iguais. Mas os ventos, as chuvas e os rios revelarão onde construímos.


DANIEL, SERVO DO ALTÍSSIMO

Disseram, pois, estes homens: Nunca acharemos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus. Daniel 6:5

Daniel é um daqueles personagens da Bíblia que nos impressionam por sua fidelidade a Deus. Na abertura do livro, somos informados de que "resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei" (Dn 1:8). Embora alguns gostem de enfatizar a segunda parte do texto, discutindo a preocupação com a dieta alimentar, o que me impressiona é a primeira seção, focalizando sua decisão que antecede as prováveis dificuldades na corte de Babilônia. Daniel não é do tipo de deixar decisões importantes para o momento da tentação. Quando ela chega, ele já sabe o que fazer. Outro aspecto do caráter de Daniel é evidente no texto de hoje. Mesmo sob a observação de inimigos, nada pode ser encontrado contra ele.

O capítulo 3 do livro de Daniel é paralelo com o capítulo 6. Primeiro, três figuras solitárias, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os amigos de Daniel, erguem-se na planície de Dura, enfrentando a ameaça da fornalha ardente. Uma pergunta comum é: Onde estava Daniel então? Não sabemos, e isso realmente não importa. Quando sua hora de teste chega, ele se comporta à altura de seus amigos. Daniel sabia da ameaça dos inimigos. Em 30 dias, ninguém poderia fazer nenhuma petição a qualquer deus, apenas ao rei (ver Dn 6:7). Não se trata de um pecado que ele não quer cometer, mas de um dever que ele não pode deixar de cumprir. Seus amigos se recusaram a prestar homenagem idolátrica. Daniel, por sua vez, recusa-se até mesmo a omitir ou ocultar sua adoração ao Deus verdadeiro.

Os inimigos contavam com a integridade de Daniel. E não foram decepcionados. O que faria você no lugar dele? Alguns, provavelmente, encontrariam razão para racionalizar a conduta, pensando: "Fecharei a janela; afinal, Jesus não disse que é assim que devemos orar?"
Outros poderiam se desculpar da seguinte maneira: "Poço orar mentalmente. Por que me expor ao perigo?" Mas a questão é outra: Por quanto tempo Daniel orava daquela forma? Provavelmente por mais de 60 anos. Sua atitude não era nova, muito menos uma encenação para impressionar. Mudar naquele momento seria equivalente a adotar a essência do decreto: submissão ao capricho humano. Este exemplo da história bíblica brilha como modelo de uma lealdade que não negocia nem transige. Representa um poderoso desafio à nossa fé, por vezes tão vacilante e incerta.


O CHAMADO DO INSIGNIFICANTE

Então, disse Moisés ao Senhor: Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a Teu servo, pois sou pesado de boca e pesado de língua. Êxodo 4:10

Essa seção do segundo livro das Escrituras (Êx 4:8-16) aparece como um intervalo entre as vibrantes cenas no drama do êxodo. Aqui nós encontramos em Moisés aquele tipo de fraqueza que muitos escritores e biógrafos oficiais tentam esconder acerca de seus heróis. Esse é um relato estranho e embaraçoso na história de Moisés. De minha infância, eu trazia outra concepção dele. Em minha mente, tinha um daqueles quadros que ilustram as histórias da Bíblia, em que Moisés aparece quase como uma personificação do próprio Deus. Uma figura expressiva de terrível autoridade. Em pose dramática, dignamente barbado, imperturbável, com os olhos fitos no horizonte, segurando as tábuas da lei, como se a própria autoridade dos mandamentos dependesse de sua autoridade. Um verdadeiro super-homem do Sinai!

Assim ele foi imortalizado no mármore por Michelangelo. O próprio Sigmund Freud foi impressionado com essa visão de Moisés. Em seu livro Moisés e o Monoteísmo, o líder hebreu se ergue como um símbolo dos temores da infância. Pelos teólogos da libertação, Moisés foi descrito como um grande libertador, símbolo de força revolucionária.

Mas a leitura desses textos do êxodo destrói qualquer fantasia acerca de Moisés. Aqui, ele aparece cheio de lamúrias e queixas. Com infindáveis desculpas. Cheio de autopiedade. Questionando, incrédulo quanto à libertação de seu povo, apresenta uma série de escusas. Ele não era nada mais que um velho pastor do deserto. Então com 80 anos, sem qualquer posse ou influência, considera que esse sonho de libertação parece uma utopia, se não for uma insanidade. Enquanto o Senhor aparece cheio de esperança, Moisés é o realista da história – apenas quer ser deixado em paz.

O chamado de Moisés é, sem dúvida, o chamado do insignificante. O chamado do insuficiente. Confesso que, algumas vezes, lendo o relato bíblico, eu me identifiquei com Moisés. Ele conhecia a incredulidade de seu povo. Ele conhecia suas limitações. Contudo, Moisés estava passando por alto o elemento central de seu chamado. Ele esteve, pelo menos inicialmente, desconsiderando Aquele que pode arranjar circunstâncias e mudar situações. Afinal, o problema de Moisés não era nenhum problema para o Todo-Poderoso, e um dos nossos problemas é não entender isso.


quinta-feira, fevereiro 27, 2014

O PODER DOS QUE NÃO TÊM PODER

Vai, pois, agora, e Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar. Êxodo 4:12

Moisés tentara suas melhores desculpas para "cair fora". Primeiro, ele tentou o que chamo de "escusa sociológica", baseada no conhecimento que se tem dos outros. "Mas eis que não crerão" (Êx 4:1). Afinal, por mais de 400 anos, ao que sabemos, Yahweh não falara diretamente com ninguém. Além disso, na última vez que tentara ajudar seu povo, seus irmãos o ameaçaram. Por 40 anos, ele andara desaparecido. A "Polícia Federal do Egito" o tinha na lista dos "mais procurados". Moisés tinha suas razões. A incredulidade, contudo, não era só do povo, mas dele próprio.

"Que é isso que tens na mão?", Deus pergunta para que Moisés pense. O seu cajado de pastor, símbolo de suas insignificantes realizações em quatro décadas. O produto de sua fracassada ocupação no deserto de Midiã. Não havia nada de especial naquela vara que agora passa a ser interpretada como o símbolo da competência para a tarefa que o Senhor vai lhe atribuir. Aqui nós temos uma repreensão a todos os que pensam que Deus trabalha apenas com pessoas de talentos extraordinários. O cajado é de Moisés, mas o poder é de Deus. Outros sinais seriam acrescentados.

A segunda desculpa, que chamo de "escusa psicológica", é baseada no conhecimento que temos de nós mesmos. Moisés alega ser "pesado de língua" (v. 10). Os 40 anos sem ter com quem falar significativamente haviam feito dele um desabilitado vocal. "Arranje outro", ele disse nas entrelinhas. Moisés, contudo, precisava aprender que, com o Senhor, desabilidade ou limitação não é sinônimo de desqualificação. O Altíssimo é o poder dos que não têm poder.

Curioso é que, em lugar de fazer outro milagre para curá-lo de suas dificuldades, o Senhor envia para a batalha o velho Moisés com sua língua pesada. Yahweh não quer intervir em favor de Seu povo com um poderoso e eloquente orador. Ele apenas supre Moisés com outra limitação: um velho sacerdote de 83 anos, Arão, seu irmão. É com essa dupla da "melhor idade", no mínimo curiosa, que o Senhor vai cumprir Seu propósito colossal. Onde começa o poder de Moisés? Quando ele abandona as desculpas. Quando entende que o poder não é seu. O êxodo não depende dele. A palavra é de Deus. Os recursos são de Deus. A libertação é do Senhor. Ela não vem do homem, não importa quem seja o homem. O poder não depende da habilidade, mas da disponibilidade.


quarta-feira, fevereiro 26, 2014

O PODER DOS QUE NÃO TÊM PODER

Vai, pois, agora, e Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar. Êxodo 4:12

Moisés tentara suas melhores desculpas para "cair fora". Primeiro, ele tentou o que chamo de "escusa sociológica", baseada no conhecimento que se tem dos outros. "Mas eis que não crerão" (Êx 4:1). Afinal, por mais de 400 anos, ao que sabemos, Yahweh não falara diretamente com ninguém. Além disso, na última vez que tentara ajudar seu povo, seus irmãos o ameaçaram. Por 40 anos, ele andara desaparecido. A "Polícia Federal do Egito" o tinha na lista dos "mais procurados". Moisés tinha suas razões. A incredulidade, contudo, não era só do povo, mas dele próprio.

"Que é isso que tens na mão?", Deus pergunta para que Moisés pense. O seu cajado de pastor, símbolo de suas insignificantes realizações em quatro décadas. O produto de sua fracassada ocupação no deserto de Midiã. Não havia nada de especial naquela vara que agora passa a ser interpretada como o símbolo da competência para a tarefa que o Senhor vai lhe atribuir. Aqui nós temos uma repreensão a todos os que pensam que Deus trabalha apenas com pessoas de talentos extraordinários. O cajado é de Moisés, mas o poder é de Deus. Outros sinais seriam acrescentados.

A segunda desculpa, que chamo de "escusa psicológica", é baseada no conhecimento que temos de nós mesmos. Moisés alega ser "pesado de língua" (v. 10). Os 40 anos sem ter com quem falar significativamente haviam feito dele um desabilitado vocal. "Arranje outro", ele disse nas entrelinhas. Moisés, contudo, precisava aprender que, com o Senhor, desabilidade ou limitação não é sinônimo de desqualificação. O Altíssimo é o poder dos que não têm poder.

Curioso é que, em lugar de fazer outro milagre para curá-lo de suas dificuldades, o Senhor envia para a batalha o velho Moisés com sua língua pesada. Yahweh não quer intervir em favor de Seu povo com um poderoso e eloquente orador. Ele apenas supre Moisés com outra limitação: um velho sacerdote de 83 anos, Arão, seu irmão. É com essa dupla da "melhor idade", no mínimo curiosa, que o Senhor vai cumprir Seu propósito colossal. Onde começa o poder de Moisés? Quando ele abandona as desculpas. Quando entende que o poder não é seu. O êxodo não depende dele. A palavra é de Deus. Os recursos são de Deus. A libertação é do Senhor. Ela não vem do homem, não importa quem seja o homem. O poder não depende da habilidade, mas da disponibilidade.


terça-feira, fevereiro 25, 2014

OS MÉTODOS DE DEUS

Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Jeremias 29:11

"Deus ouviu minhas orações." Quando as pessoas me dizem isso, imagino que elas estão querendo dizer que Deus lhes deu o que pediram. Contudo, será que Deus só ouve nossas orações quando Ele nos concede o que queremos? Com frequência, esquecemos que ao Ele dizer "não" ou "espere" temos respostas divinas tão misericordiosas como Seu "sim".

Respondemos aos filhos dando-lhes não apenas o que querem, mas o que julgamos ser o melhor para eles. De maneira infinitamente superior, porque as respostas de Deus são sempre corretas, justas, sábias e melhores, Ele com frequência responde às nossas orações concedendo o que a longo prazo se provará o melhor para nós.

Uma das dificuldades com as orações é que elas, na maioria das vezes, são apenas sugestões. Trazemos as respostas prontas, esquecendo-nos de que Deus trabalha com Seus métodos. Naamã, o leproso, queria ser curado. Imaginou que seu pedido deveria ser respondido em termos de um grande show, um espetáculo aos sentidos. Ficou irado quando o profeta simplesmente mandou que ele mergulhasse sete vezes no Jordão. Paulo, por três vezes, pediu que Deus retirasse dele seu "espinho na carne", entendido por muitos como sendo uma visão precária. Não seria do interesse do próprio Senhor ter um homem como Paulo atuando nas melhores condições? Deus lhe respondeu de maneira inesperada, apenas indicando que Seu "poder se aperfeiçoa na fraqueza".

Considere esta extraordinária oração de Blaise Pascal: "Não te peço, Senhor, por saúde ou enfermidade, vida ou morte, mas apenas que Tu disponhas de minha saúde ou enfermidade, de minha vida ou de minha morte para a Tua glória [...]. Somente Tu sabes o que é melhor para mim [...]. Concede-me ou tira de mim, mas apenas faze a minha vontade aceitar a Tua vontade. Eu sei apenas, Senhor, que devo seguir-Te e não Te ofender. Fora isso, eu não sei o que é bom ou ruim em qualquer outra coisa. Eu não sei o que é melhor para mim, saúde ou enfermidade, riqueza ou pobreza, ou qualquer outra coisa no mundo. Tal discernimento está além do poder dos homens ou dos anjos, e está escondido entre os segredos de Tua providência, a qual eu adoro, mas não procuro compreender."


segunda-feira, fevereiro 24, 2014

QUEM É O LÍDER DO LAR?

Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura. Colossenses 3:19

O sociólogo Willard Waller formulou o "princípio do menor interesse". Em termos simples, o princípio de Waller se resume nisto: em qualquer relacionamento, aquele que ama mais exerce menor poder, e aquele que exerce maior poder manifesta menor amor. Imagine um casamento no qual o esposo não ama profundamente a esposa, enquanto ela o ama verdadeiramente. Agora faça a pergunta: Nesse tipo de arranjo, quem dita os termos do relacionamento? Quem é o "chefe"? Quem tem o poder? A resposta é óbvia. Ela fará qualquer coisa por ele, mas, uma vez que ele não está muito envolvido, não se importará muito com ela. Ele está na posição de poder. O oposto também é verdade. Quando a esposa está menos envolvida emocionalmente, e o marido realmente a ama, ela terá o poder.

Na igreja, em seminários sobre casamento, frequentemente surge a questão: Quem é o cabeça do lar? Em geral, quem faz essa pergunta está realmente querendo saber: Quem é que manda? Quem é o chefe? Deixe-me saber: Você já fez essa pergunta alguma vez? Se você é realmente um cristão, essa é a pergunta errada. O ponto não é saber "quem é o mestre". A pergunta fundamental é: Quem é o que serve? Se você é realmente um cristão, a questão não é definir quem é o primeiro, mas quem é o último. Quando você faz as primeiras perguntas, está reproduzindo a mesma pergunta tola que Tiago e João fizeram a Cristo: "Mestre, quem se assentará à Tua mão direita, e quem se assentará à esquerda?" Quem terá o poder? O homem que realmente ama a esposa não desejará dominá-la com seu poder.

Jesus amou-nos a tal ponto que esteve disposto a abrir mão de Seu poder e tornar-Se um servo (Fp 2:5-8). Se o homem ama a esposa, ele estará disposto a desistir de seu poder e tornar-se seu servo. Da mesma forma, a esposa é instruída a ser submissa a seu marido. Mas que esposa teria dificuldade em se tornar submissa a um homem que realmente está disposto a ser seu servo? O casamento ideal é aquele no qual o marido diz à esposa: "Querida, meus sonhos, minhas esperanças e minhas aspirações não significam muito para mim. Eu estou feliz em me sacrificar para vê-la feliz." Em retorno, a esposa diria: "De jeito nenhum, querido! Meus sonhos e minhas aspirações não significam nada para mim, contanto que eu o faça feliz!" Sobre isso, eles até podem ter um desentendimento!


domingo, fevereiro 23, 2014

JESUS, O CENTRO

Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus. João 3:36

Jacob Neusner, um rabino moderno, especialista no judaísmo do período primitivo da era cristã, dedica um de seus livros, Um Rabino Conversa Com Jesus, à questão sobre como ele teria respondido a Jesus. Neusner se apresenta demonstrando grande admiração por Jesus Cristo. Admite que os ensinos de Cristo, como o Sermão da Montanha, o deixam impressionado. Ele admite ainda que Jesus teria suscitado seu interesse a ponto de, provavelmente, levá-lo a se unir às multidões que O acompanhavam. Contudo, Neusner conclui que ele teria rompido com o Galileu. Segundo sua concepção, Jesus toma um importante passo "na direção errada" quando muda o foco da Torá para Si mesmo como a autoridade central. Para o rabino Neusner, Jesus faz uma demanda que só Deus pode fazer.
"Respeitosamente, isso é demais para mim", ele diz.

Jesus diverge de todos os outros mestres que conhecemos. Por que as pessoas não se ofendem com Buda, Confúcio ou Maomé? Eles não afirmaram ser Deus, como Jesus o fez. Jesus não esteve "procurando" a verdade ou a "recomendando". Ele apontou para Si mesmo como a verdade. Constantemente falou de Si mesmo e essa autocentralização na mensagem de Cristo é reveladora. Jesus sabia que a cruz exerceria um grande magnetismo sobre as pessoas: "Quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim" (Jo 12:32). Ao atrair homens e mulheres, contudo, eles não seriam primariamente atraídos a Deus, o Pai, ou à igreja, à verdade ou à justiça, mas ao próprio Cristo. De fato, é apenas por Seu intermédio que podemos, verdadeiramente, nos aproximar de Deus, da igreja, da verdade e da justiça.
O centro da vida cristã não é nenhum outro senão Jesus Cristo. Todas as coisas, incluindo aquelas relacionadas com Ele, são eclipsadas por Sua pessoa. O astro luminoso no centro de nosso sistema planetário é uma metáfora dessa verdade espiritual. Sem o Sol a vida não poderia existir.

Devemos observar ainda a convergência entre aquilo que Cristo oferece e aquilo que Ele é. Ele não apenas oferece o pão, Ele é pão. Isso também se aplica à agua, à verdade, ao caminho, à luz, à ressurreição e à vida. Devemos notar que não podemos ter os dons sem o Doador.


sábado, fevereiro 22, 2014

ZELO SEM ENTENDIMENTO

Porque lhes dou testemunho que têm zelo por Deus, porém não com entendimento. Romanos 10:2

"Zelo por Deus sem entendimento" é igual a fanatismo. E a igreja, ao longo de sua história, tem sido palco desse triste espetáculo. O próprio Paulo fora vítima da enfermidade. Ele confessa: "Na verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia" (At 26:9-11). Ele também diz: "Na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais" (Gl 1:14).

Charles Kingsley Barrett observa que "nenhuma nação se entregou a Deus com tal devoção e mais zelo do que Israel", mas Paulo conheceu esse zelo em forma superlativa, respirando "ameaças de morte" contra aqueles de quem discordava. Contudo, todo o zelo do mundo não tem qualquer valor sem o conhecimento para guiá-lo. João Calvino corretamente afirmou que "é melhor, como Agostinho diz, ir para o Céu mancando do que correr com toda velocidade e poder na direção errada".

Zelo sem entendimento é o vício, não a virtude, de muitos que se consideram cristãos. Deploravelmente, parece que cada congregação tem exemplos dessa realidade. Alguns são imitadores do Saulo de Tarso antes de seu encontro com Jesus Cristo, cheios de justiça própria e orgulho espiritual. E que conhecimento lhes falta? O mesmo que estava ausente em Paulo em sua experiência primitiva: o conhecimento de que eles não são autossuficientes, mas dependentes dos méritos de Jesus Cristo. Tal conhecimento traz consigo um humilde reconhecimento de nossas fraquezas e do poder do pecado, além da colossal percepção do poder de Deus.

Aqueles que pensam que sabem, diz Lutero, causam sérios e infindáveis problemas, mas "aquele que sabe que não sabe é gentil e submisso para ser guiado". Deus deseja que tenhamos zelo, mas esse deve ser um ardor pleno de conhecimento – conhecimento de nossa fragilidade e de nossa arrogante tendência de procurar ser Deus para os outros. Esse conhecimento enche nosso zelo da doçura da graça de Cristo.


sexta-feira, fevereiro 21, 2014

A IMPORTÂNCIA DA INTEGRIDADE

Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Atos 5:3

Integridade, por definição do dicionário, é o "estado de ser completo, inteiro". A integridade é irmã gêmea da "sinceridade", expressão latina, sine cera (sem cera), utilizada para descrever os móveis sem reparos cosméticos e corretivo feitos com cera, para ocultar defeitos. Tanto a integridade quanto a sinceridade são consideradas hoje virtudes em extinção, porque elas são antíteses do espírito dos tempos. Nossa cultura gravita ao redor do sucesso a qualquer preço, vantagens imediatas e propaganda enganosa em todas as áreas. Para muitos, imediatismo e consumismo transcendem os valores permanentes. O que conta é o momento, o aqui e agora.

Pessoas íntegras nada têm a esconder ou ocultar. Nada a temer. Integridade não é primariamente o que fazemos, mas o que somos, e o que somos orienta o que fazemos. A importância crucial da integridade está no fato de que ela exerce grande influência. Acredita-se que 89% do que as pessoas aprendem são determinados por aquilo que observam. Aquilo que os filhos, alunos e liderados testemunham, em última análise, é o que realmente conta. Está acima das palavras e discursos que ouvem. De modo curioso, as pessoas tendem a investir, desproporcionalmente, mais esforço, tempo e recursos na imagem do que na integridade. Imagem é o que as pessoas pensam que somos. Integridade é o que realmente somos. E o que as pessoas são por fora nem sempre coincide com aquilo que elas são por dentro.
O texto de hoje relembra a história de Ananias e Safira, dois membros hipócritas da igreja primitiva. O pecado deles não foi primariamente avareza, mas falta de integridade. Tentaram simular o que não eram. O que aconteceu não foi disciplina eclesiástica, mas julgamento divino. O que aconteceria se Deus tratasse assim a insinceridade dos cristãos modernos? Provavelmente a igreja teria menos membros.
Alguém observou que "a medida do caráter real de um homem é aquilo que ele faria se soubesse que nunca seria pego". Ananias e a esposa não imaginaram que sua insinceridade seria descoberta. Os resultados foram trágicos. No julgamento, anjos darão testemunho de nossos segredos. "Deus há de trazer a juízo todas as obras, [...] quer sejam boas, quer sejam más" (Ec 12:14).


quinta-feira, fevereiro 20, 2014

OS SINOS DO CÉU

Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti. 2 Timóteo 1:5

James Dobson, conhecido psicólogo cristão que trabalhou no Hospital para Crianças em Los Angeles, conta a história de um garoto afro‑americano, de cinco anos, que nunca seria esquecido por ele. O garotinho estava internado, morrendo de câncer no pulmão, uma terrível enfermidade, especialmente em seu estágio final. Os pulmões se tornam cheios de fluidos, e o paciente fica incapaz de respirar, sentindo-se como se estivesse morrendo afogado. A experiência, segundo Dobson, é grandemente perturbadora, particularmente para uma criança pequena. O garotinho era filho de mãe cristã. Ela o amava grandemente e permanecia ao seu lado em meio ao doloroso cortejo da enfermidade. A mãe o colocava em seu colo e conversava suavemente com ele acerca de Deus e do Céu. Instintivamente ela o estava preparando para os momentos finais que se aproximavam.

Gracie Schaeffler, enfermeira do garoto naquele dia, entrou em seu quarto e o ouviu falar de "sinos do Céu". Ele balbuciava, como se conversasse com sua mãe: "Os sinos estão tocando, mãe, eu posso ouvir." A enfermeira julgou que ele estivesse tendo alucinações. Voltou um pouco depois e novamente ouviu a criança falar de "sinos tocando". A senhorita Gracie, à tarde, contou para a mãe do menino que ele tivera alucinações, falando coisas que não existem, provavelmente por causa da dor. A mãe, que no momento estava com a criança no colo, o apertou ainda mais contra o peito. Com um sorriso, disse: "Não, senhorita Schaeffler. Ele não está alucinando. Eu o ensinei que, quando amedrontado, quando ele não pudesse respirar, focalizasse um canto no quarto e tentasse escutar cuidadosamente; ele ouviria os sinos do Céu tocando para ele. É disso que ele estava falando." Aquela preciosa criança faleceu no colo de sua mãe, naquela mesma noite, ainda falando dos "sinos dos anjos".

Tenho grande admiração por pais e mães que ensinam os filhos a confiar no Senhor. Não importa o que a vida venha a jogar sobre eles ou que circunstâncias tiverem que atravessar, tais crianças, por pequenas que sejam, saberão que não estão sozinhas nem desamparadas. Esse ponto de referência espiritual será a maior herança que os pais podem deixar a seus filhos.


quarta-feira, fevereiro 19, 2014

GRAÇA PARA TODOS

[Jesus] deixou a Judeia, retirando-Se outra vez para a Galileia. E era-Lhe necessário atravessar a província de Samaria. João 4:3, 4

Nicodemos e a mulher samaritana são personagens exclusivos do quarto evangelho. Os dois apresentam um quadro de extraordinário contraste. Ele é um líder da austera teologia farisaica, o melhor da moralidade da época, membro da sofisticada elite. O encontro com Cristo acontece de noite, com entrevista marcada. Jesus confronta Nicodemos com uma demanda: "É necessário nascer de novo" (ver Jo 3:3). A samaritana, por outro lado, é uma religiosa quase completamente ignorante, adúltera, marginalizada dentro do sistema social e religioso dos judeus. Encontra-se com Cristo de dia. Ela não suspeita de nada. Toma o Filho de Deus por um judeu comum. Jesus a confronta com uma oferta: "Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede" (Jo 4:14).

Inicialmente, temos a impressão de estar lendo histórias sobre Nicodemos e a samaritana anônima. Contudo, essas narrativas são essencialmente sobre Jesus e o amor de Deus revelado nEle. Os extremos humanos estão aqui representados, assim como está representada a grande oferta de Deus, que se estende a todos. Os personagens humanos são nossos representantes. Neles, fica claro que a graça de Deus é para todos. Ninguém é excluído. Aqui o ministério de Jesus repreende a justiça própria de Nicodemos, bem como a indulgente promiscuidade da samaritana. Mas o que vemos, afinal, é o triunfo da graça divina.

Na conversa com a mulher, junto ao poço de Sicar, Jesus rompe com dois costumes do comportamento judaico. Primeiramente, os homens não conversavam em público com as mulheres. Em segundo lugar, os judeus rejeitavam qualquer contato com samaritanos (Jo 4:9). Os samaritanos eram judeus híbridos, considerados "vermes imundos" pelo judaísmo. Essa era uma hostilidade que se arrastava por séculos de história.

Cristo Se elevou acima de tabus, preconceitos e mentalidade de gueto para alcançar essa criatura falida. Jesus era mestre em encontrar ouro na lama. Quando ela hesita em Lhe conceder o insignificante favor de um gole de água, dever sagrado entre os orientais, Ele desarma o preconceito dela. Desconsiderando a recusa, faz-lhe uma oferta fascinante. No início da narrativa, é ela quem tem a água, e Jesus a sede. No fim, a mesa se inverte: Ele tem a água, e ela a sede. Esse sempre é o desfecho de nosso encontro com Deus. Nossa falência pode passar por inesperada mudança de rota.


terça-feira, fevereiro 18, 2014

OS CRISTÃOS E O CONSUMISMO

Os mercadores destas coisas, que, por meio dela, se enriqueceram, conservar-se-ão de longe, pelo medo do seu tormento, chorando e pranteando. Apocalipse 18:15

O consumo não é algo novo. Pode ser visto como o uso legítimo de recursos para a sobrevivência. Esse não é o caso do consumismo, que surgiu na esteira da Revolução Industrial, tornando-se um estilo de vida dominante em nossos dias. Até então, exceto pela elite rica, o consumo era baseado em necessidade. Luxos e gastos desnecessários eram tipicamente condenados, vistos como extravagâncias supérfluas.

A cultura atual, contudo, apresenta o quadro global de uma febre feroz e incontrolável para se ter e consumir. O poder de consumo é visto como um símbolo de superioridade social, sublinhando status profissional e econômico, mantendo distinção entre "aqueles que podem" e "aqueles que querem". Consumir é fashion, é ter estilo. Os hábitos de compra foram transformados, e extravagâncias parecem necessidades. O comércio, por meio da publicidade, conseguiu controlar as pessoas, ditando a elas o que vestir e comer, que tipo de móveis precisam comprar e como é o carro que devem ter. A propaganda passou a controlar o pensamento, e os produtos passaram a ser não apenas desejáveis, mas indispensáveis.

Para se criar a economia consumista, o crédito dos consumidores teve que ser expandido. O efeito disso foi o grande aumento do endividamento sobre pessoas e famílias. As consequências dessa Babilônia ainda não foram avaliadas em toda sua extensão. Desenvolveu-se até uma "religião materialista". Se no passado a resposta a questões essenciais, como "Quem somos nós?", vinha das Escrituras, hoje ela vem do mercado: "Somos o que consumimos." As pessoas são subjugadas pela sensação do consumo compensatório: consumir para sentir alívio do estresse. Consumir para sentir-se bem. A lógica é mais ou menos esta: "Se desejo, eu devo possuir. Se devo possuir, é porque eu necessito. E, porque necessito, eu mereço. Então farei qualquer coisa para possuir o que necessito e mereço."

A força da propaganda consumista é alicerçada em promessas falsas. Mas as Escrituras não têm boas-novas para o consumismo. O Apocalipse 18 antecipa o colapso do comércio, da propaganda enganosa, das fraudes e mentiras. Descubra a vontade de Deus para sua vida, e confie em Suas promessas infalíveis. Aprenda a relativizar a voz da cultura e seus apelos.


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