terça-feira, março 04, 2014

OS VIZINHOS QUE NUNCA SE ENCONTRARAM – II

Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. Lucas 16:22

Jesus não economiza palavras para descrever o quadro. Lázaro, sobrevivendo de magra caridade, "jazia cheio de chagas", indicando que ele era desabilitado, dependendo de outros para movê-lo. "Cães lambiam as suas úlceras" (v. 21), ele era incapaz mesmo de se proteger. Faminto, desejava alimentar-se das migalhas de pão que caíam da mesa do rico. No Oriente, pedaços de pão serviam tanto de garfo como de guardanapo, e eram jogados ao chão depois do uso.

A morte de Lázaro não surpreende ninguém. Seu enterro nem mesmo é descrito. Na sabedoria convencional dos judeus, a miséria na terra era resultado da desaprovação divina. O destino de Lázaro, entretanto, é o "seio de Abraão". Reversão maior não poderia ser imaginada. Dives, o rico, também morre. Funeral custoso é realizado com o luxo adequado à sua riqueza, mas não há nenhum anjo para transportá-lo. Na próxima cena, encontramos Dives no Hades – na tradição grego/judaica, o lugar de tormento. O abismo entre os dois é maior do que aquele criado pela riqueza contrastante com a miséria da cena anterior.

Para os que querem literalizar a parábola, uma questão é interessante: deveriam explicar se o Céu e inferno estão próximos o suficiente para que haja diálogo entre um lado e outro. Na realidade, esses detalhes sugerem apenas um aspecto prático da vida, não uma teologia ou doutrina sobre o estado dos mortos.

Como se Lázaro fosse seu escravo, Dives pede ao "pai Abraão" que o mande trazer-lhe água e depois solicita que o envie a advertir seus cinco irmãos, que caminham para a mesma direção (v. 24-28). Há milhões que são imitadores do homem rico: "Eu creria se Deus fosse mais claro." Assim, Deus é considerado culpado pela incredulidade deles. A resposta de Abraão é demolidora: "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos" (v. 29). Se não crerem nesses, não crerão "ainda que ressuscite alguém dos mortos" (v. 31). A lógica de Abraão é confirmada pela ressurreição de outro Lázaro (Jo 11). Em lugar de crerem, o milagre tornou-se razão para endurecimento adicional. Deus fala por meio de Sua criação, da história, da Palavra escrita e da Palavra encarnada, Jesus Cristo. Não necessitamos de nada mais. O que realmente precisamos é de um coração sensível. Nosso problema não é revelação insuficiente, mas fé insuficiente. Afinal, não é a riqueza que exclui Dives do Céu, mas sua incredulidade.


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